quarta-feira, 18 de março de 2009

Descobrindo os Pergaminhos do mar Morto


O povo assírio de Jerusalém teve um papel importante no descobrimento e preservação por mais de 25 anos desses importantes livros.

A verdade sobre o descobrimento e posse desses livros é conhecida hoje por pouquíssimas pessoas vivas, pois, por motivos políticos (tanto eclesiásticos quanto civís), essa verdade não podia ser revelada até que uma personagem decisiva houvesse passado para a vida futura.

A história que se conhece é que em 1947 dois pastores da tribo dos Ta'amrieh, na Palestina, enquanto pastoreavam suas ovelhas, acabaram perseguindo uma ovelha desgarrada e tropeçaram, dentro de uma caverna totalmente escura, em um jarro que continha um pergaminho de pele de cabra. Tateando mais um pouco, descobriram outros três jarros. Como fossem analfabetos e pela antiguidade do achado, estimaram que ganhariam algum dinheiro, vendendo-o às comunidades antigas de Jerusalém. Isto decidido, levaram os jarros à Universidade Hebraica, que se recusou a comprá-los alegando que eram sem valor pois eram recentes e se tratava de livros de outra comunidade, dos siríacos (assírios). Então os beduinos levaram-nos a um comerciante de antiguidades da comunidade Siríaca Ortodoxa que os levou ao mosteiro de São Marcos da comunidade da Igreja Siríaca Ortodoxa de Antioquia e lá venderam-nos ao Bispo Athanasios Yeshu Samuel por alguns guinéus.

Quando eclodiu a guerra da Palestina, entre as comunidades religiosas não cristãs, mais precisamente as comunidades judia e a islâmica, o Bispo Athanaisos levou os quatro livros aos Estados Unidos da América do Norte e lá vendeu-os a um comerciante ("marchand") inglês por duzentos e cinquenta mil dólares que os levou ao recem criado estado judeu de Israel.

Essa estória, no entanto, apresenta alguns "problemas" de incoerência quanto à verdade. Vejamos alguns:

1) A região onde foram achados, são rochas totalmente áridas, para onde as ovelhas não fugiriam.

2) Se esses "pastores" eram analfabetos, como poderiam saber, ou ao menos "intuir" que se tratava de livros muito antigos?

3) Em 1947, qualquer pessoa que morasse na Palestina, saberia que os judeus pagavam alto por documentos históricos, justamente porque estavam tentando "reconstruir" sua história.

4) Será que os judeus vindos da Europa e América não possuiam historiadores e arqueólogos que pudessem fazer uma avaliação correta de objetos com mais de 1.500 anos?

5) A próxima pergunta é, por que os judeus não pagariam um preço mais alto e escolheram um comerciante de antiguidades de uma comunidade das mais pobres da época?

Bem, a verdade é que não foi isso que ocorreu.

Vou reproduzir a seguir, o que me foi relatado em 1968, pelo Professor Ibrahim Gabriel Sowmy (1913-1996) que viveu lá na Palestina, entre 1922 e 1948. A história desses livros, no século XX começou de forma diferente.

Após a conquista da Palestina pelos britânicos (1918), os beduínos que perambulavam pelo oriente, começaram a sentir alguma pressão no sentido de restringirem seus movimentos e muitos acabaram utilizando métodos diversos para sobreviverem. Entre esses havia muitos contrabandistas. Em geral, contrabandeavam ouro e prata e sal. Lembremos que o sal era importante pois, os ingleses haviam restringido a extração do mesmo do Mar Morto devido à exploração de potássio. Esses dois "pastores", na verdade estavam sendo perseguidos pela polícia inglesa pois contrabandeavam sal. Em sua fuga, correram para as cavernas de Qumrã onde ficaram escondidos por dois dias, até a polícia ir embora. Enquanto estavam na escuridão, um deles acabou esbarrando nesses jarros. Quando aconteceu isso? Em 1926. Agora sim podemos entender por que os judeus não compraram os livros. Na verdade, esses livros não foram ofertados aos judeus que eram, nessa época elementos desconhecidos dos beduínos pois, havia centenas de anos que não havia contato entre eles e os beduínos da Cisjordânia ou da Transjordânia. Os beduínos dessas regiões comerciavam com as comunidades cristãs que estavam lá desde os primórdios do cristianismo, mais precisamente os assírios (siríacos ortodoxos).

Então os beduínos levaram um jarro ao mosteiro e falaram com um dos frades, Padre Yacoub Salhoyo, um padre letrado, vindo de Tur Abdin que percebeu que poderia estar diante de documentos importantes para o cristianismo. Falou com o prior do mosteiro. Decidiram então que verificariam de onde viera o jarro. Os beduínos concordaram e então enviaram com eles três dos jovens seminaristas: Yeshu Samuel, com 16 anos, Petros (Iskandar) Sowmy, 16 anos, Mikhael Mardinoyo e o próprio Padre Yacoub. Voltaram de lá com os outros três jarros. O padre Yacoub pagou aos beduinos três libras inglesas de ouro e ficou com os quatro jarros. Guardou-os na biblioteca do mosteiro com a intenção de algum dia analisá-los e abrí-los para de lá tirar os livros e os ler junto com os outros padres. Por uma série de acontecimentos, os livros ficaram na biblioteca, e no esquecimento.

Em 1946, a comunidade conseguiu fazer um acordo comercial com uma empresa que arrendou uma gleba de terra, propriedade do mosteiro e sobre ela construiu um hotel, com isso, a renda melhorou e os padres resolveram reformar o mosteiro. Quando chegou a vez da biblioteca, o padre Yacoub Salhoyo já havia falecido após ter sido eregido à hierarquia de bispo e os jovens seminaristas já eram o Bispo Yeshu Samuel, o Núncio Apostólico no Egito Mikhael e o frei Petros Sowmy. Então, sob a orientação do Professor Ibrahim Gabriel Sowmy, resolveram entrar em contato com os professores dos museus e universidades internacionais em Jerusalém para obter uma avaliação real dos rolos. A intenção era construir um museu para estudos e visitação dos documentos históricos da biblioteca e outros objetos de valor intelectual do mosteiro e para isso precisariam do endosso de autoridades incontestes no assunto. E o que melhor que os professores de história e arqueologia ocidentais?

Após algumas tentativas frustradas, conseguiram falar com dois jovens americanos que preparavam suas teses, pertencentes à Escola Americana de Pesquisa Oriental (American School of Oriental Research) em Jerusalém, que os receberam visto o diretor estar em férias. Um deles era John C. Trever que em seu livro "The Untold Story of Qumran", relata de forma magistral os desafios da guerra religiosa que irrompera entre judeus e muçulmanos, os encontros e as manobras para conseguir fotografar uma página de um dos rolos, a sua desconfiança que se tratava de algo muito antigo ou uma boa fraude e finalmente a confirmação vinda de W.F. Albright, professor da Universidade de Chicago de que se tratava de uma descoberta muito importante para a humanidade.

Cabe ressaltar alguns fatos:

1) Trever cita claramente que o Bispo Athanasios lhe dissera que os rolos encontravam-se há mais de vinte anos no mosteiro.

2) Trever cita que Ibrahim Sowmy, o irmão do padre Butros (versão árabe de Petros/Pedro) declarara que pela região onde foram descobertos, deveriam ser livros da comunidade dos essênios e que ele, Trever, não concordava.

3) Trever cita que Ibrahim Sowmy declarara que a escrita era aramaico arcaico.

Para a história, o fato é que o governo do mandato britânico e posteriormente, o governo do reino haximita da Jordânia haviam declarado que qualquer objeto descoberto há mais de 20 anos passava a ser patrimônio histórico da nação e com isso estava vedada sua venda ou transferência para fora do país.

Em março de 1948 faleceu o padre Petros Sowmy, vítima de um estilhaço de granada que havia sido atirada para dentro do pátio do mosteiro de São Marcos. Em vista da situação da Palestina o Bispo Athansios Yeshu achou melhor levar os livros para fora da Palestina, pediu autorização ao então Patriarca Aphrem I e viajou com os livros para os Estados Unidos. Lá ele os vendeu por duzentos e cinquenta mil dólares. Comprou uma propriedade que transformou em igreja, em Hakensack, e passou parte do dinheiro ao Patriarcado.

Resultado, a Igreja Siríaca Ortodoxa de Antioquia perdeu um patrimônio histórico. A Igreja Siríaca Ortodoxa de Antioquia trocou um bem cujo valor estimado na época seria em torno de um milhão de dólares por um quarto desse valor.

Um comentário:

Ana Feliputi disse...

Oi amigo,

Você plagiou Peter Sowmy. Por quê não coloca a fonte e os créditos pelo menos?

:)